Coluna da Gabí Radical

Oiê,

 A maioria de vocês tem me acompanhado nestes 6 anos e sabem que estive trabalhando em São Tomé e Príncipe, uma pequena ilhazinha no atlântico. Uma terra de um verde natural, onde o céu e o mar são de um azul extasiante. Uma terra que é chamada de “o paraíso africano perdido”, o que de certa forma é verdade, pois o povo ainda padece longe de Deus. Um lugar que sempre estará no meu coração e na minha memória...

No mês passado tive o privilegio, ou melhor, recebi o presente de Deus de voltar a São Tomé e Príncipe, depois de 4 anos, voltei às ilhas do meu coração.

Passei 10 dias maravilhosos, revendo os amigos que fiz ali, me alegrando muito com os frutos que ficaram e multiplicaram após nossa saída e também me entristecendo por alguns que se perderam no caminho, mas enfim, como disse um cantor, o importante é que emoções eu vivi...rs

Revi a minha amiga Cisa, aquela de quem eu falava a respeito das dificuldades com a família que insistia em levá-la ao curandeiro e fazer pactos com sua vida. Hoje Cisa continua firme com Jesus, casada com um homem de Deus, grávida e com saúde. Graças a Deus ela foi curada de todas as enfermidades graves que sempre tinha.

Visitei muitas pessoas, mas o que não posso deixar de contar foi a visita que fiz à Paga-fogo. Paga-fogo é uma comunidade no alto de uma montanha, com um difícil acesso para subir, com cerca de 200 pessoas que vivem do que plantam ou pescam. Quando Edinho (meu colega de campo no Radical) e eu conhecemos Paga-fogo, nos apaixonamos. Todos diziam que éramos loucos de subir aquela montanha, afinal, em tempos de chuva era quase impossível subir ou descer, pois o barro destruía a pequena trilha e se tornava bem perigoso, a qualquer descuido poderíamos escorregar para um abismo. Porem o amor e desejo de ver aquela comunidade salva era maior.

Quando partimos de São Tomé, NINGUEM quis continuar o trabalho ali, era um risco grande, uma situação complicada que ninguém estava disposto a enfrentar.

Agora, depois de 4 anos ao chegar em São Tomé pensei que precisava voltar ali, mas confesso que tive medo, medo de ser rejeitava, pois afinal fomos embora e ninguém mais voltou ali, medo de não me reconhecerem, ou mesmo, medo de ir e ter que deixá-los outra vez. Mas não me deixei vencer pelo medo e fui.

Foram 2 horas de carro pela estrada até o ponto do pé da montanha. Ao chegar no ponto em que não se poderia subir de carro, só a pé, encontrei algumas velhas que sempre cumprimentava antes de subir, era como se o tempo tivesse parado e elas nunca tivessem saído dali. Elas me cumprimentaram com o mesmo sorriso de sempre, até que de repente, escutei um grito que vinha do alto da montanha, de alguma forma assustadora, era como se o tempo nunca tivesse passado naquele lugar, e como toda semana, ao chegar no pé da montanha as crianças me esperavam do alto e desciam correndo para me encontrar no caminho. “Tia Gabi, Tia Gabi...”, alguém gritava do alto. Comecei a subir, ansiosa e contente com o que ouvia, até que no caminho pude reconhecer os rostos. Percebi que o tempo passou, mas não a paixão de ambas as partes. Abracei-os e fomos subindo a montanha para encontrar os outros, enquanto pouco a pouco iam surgindo as perguntas a respeito da minha vida. A curiosidade geral era pra saber se eu tinha me casado e tinha filhos, como bons africanos, definem muitos filhos como sinônimo de felicidade.

Ao chegar la em cima, encontrei algumas famílias. As crianças, agora não tão crianças, e os adolescentes, agora adultos, foram se juntando pouco a pouco no lugar em que nos reuníamos. Um rapaz, chamado Gervasio, hoje um pai de família, me perguntou se eu estava voltando pra ficar, e eu com um aperto no coração respondi que não, que era uma visita. Cabisbaixo, ele começou a dizer que NINGUEM mais foi ensiná-los a palavra de Deus. Ele saiu da sala, e alguns minutos depois voltou com uma bíblia bem amassada nas mãos e disse: Eu tento ler, mas não entendo o que diz, quem vai me ensinar? Eu quero aprender a palavra de Deus, mas não tem ninguém que me ensine, eu quero ensinar aos meus filhos de Jesus, mas não sei o que falar QUEM VIRÁ NOS ENSINAR? Naquele momento me controlei para não chorar, a paixão gritava dentro de mim para ficar, mas eu sabia que deveria voltar ao Mali e que aqui estou porque Deus me colocou. Desafiei os missionários em São Tomé a irem a Paga-Fogo, eles se sentiram bem tocados, mas ainda não podem ir porque são poucos diante de tantas necessidades, muitos têm clamado naquele país. Os povos estão clamando gente! Tanto em São Tomé como em tantos outros lugares em que não se conhece do evangelho, mas QUEM IRÁ? Quem aceitará o desafio, quem subirá a montanha ou passará pelo abismo por amor a Cristo?

um forte abraço, Gabi

“Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele de quem não ouviram? e como ouvirão se não há quem pregue?”     Romanos 10:14

 

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